Coluna do Fausto Macieira: previsões motociclísticas para 2015

Em sua primeira reflexão do ano, nosso colunista faz uma projeção do que pode acontecer no mercado brasileiro de motos

19/01/2015 09:03

Fausto Macieira é repórter do SporTV e colunista de Duas Rodas

Ano novo, novas esperanças em todos os setores. Especialmente porque 2014 não foi, por assim dizer, um portento. Priorizamos o circo sobre o pão, gastando uma fortuna para dar vexame nos campos de futebol. Perdemos a Copa, mas ficamos com mais de uma dezena de estádios novinhos, mal acabados e vazios, símbolo dos (des) caminhos do esporte nacional.

Não vou falar de política para não desanimar, o assunto aqui é moto. A Abraciclo, Associação Brasileira dos Fabricantes de Motos, Bicicletas e Similares, fala em recuperação do mercado interno, projetando um crescimento de 2% na produção, 1% nas vendas por atacado e 2,1% nas vendas do varejo. Quando escrevi esta coluna não havia ainda o número do último mês do ano, mas a tendência é um recuo de cerca de 11% em produção e vendas em 2014, se comparadas às de 2013. As exportações, que sofreram queda de cerca de 16% no ano passado, devem desabar mais de 50% em 2015.

Os números não mentem, mas é difícil e sobretudo embaraçoso aceitá-los. Aumentos nos preços dos combustíveis, congestionamentos diários no tráfego das cidades, precariedade do transporte público, dificuldades de estacionamento e outros fatores deveriam ser motivos suficientes para que cada vez mais gente elegesse a moto como meio de transporte, sem necessidade de segundo turno.

E por que isso não acontece? Por vários e habituais motivos. A começar pela falta de crédito, que afeta sobremaneira as vendas das motos de cilindrada mais baixa – os potenciais proprietários dependem de financiamento para fechar a operação. O consórcio representa uma boa alternativa e certamente as novas regras para recuperação de bens pelas financeiras, que reduzem a espera para retomada de veículos de um ano para três meses, vão ajudar bastante.

Nas cilindradas maiores, em especial as esportivas, embora o volume seja muitíssimo menor, as vendas seguem crescentes. As fábricas apreciam esse segmento, que em geral não depende de financiamento e gera maior margem de lucro, além de dar à marca um prestígio que se estende aos demais modelos. Os entraves nesse mercado são os radares (popular pardal), redutores de velocidade (popular quebra-molas), o péssimo estado de conservação de ruas e estradas, o tráfego cada dia mais intenso e, err, o conforto limitado das pedaleiras afastadas e guidões baixos, no nível dos retrovisores dos automóveis. A classe dos motociclistas está amadurecendo, tem mais idade e menos reflexos, e tudo isso pesa na hora de escolher a montaria.

Daí o avanço de modelos trail, big trail e naked, também chamadas de streetfighters. O visual despojado oferece preços mais acessíveis. Como exemplo, a diferença entre Honda CBR 500R (esportiva) e CB 500F (naked) é pequena, aproximadamente R$ 1.000, mas entre a esportiva CBR 1000RR e a mais comportada CB 1000R é expressiva, cerca de R$ 15 mil.

Outro fator deve – ou deveria – ser levado em conta em relação às motos grandes, que segundo a Abraciclo são as que adotam motores acima de 450cc: o risco de furto, ou pior, assalto. O preço do seguro é altíssimo, muita gente não tem, e não resta outro jeito a não ser viver como no tempo das diligências, atravessando na coragem imensas e numerosas regiões perigosas, algo como aqueles desfiladeiros cercados de índios. Um dia desses li um artigo desmiolado sobre procedimento defensivo. Para culminar, o roteiro recomendava agarrar a queixeira do capacete integral do assaltante e girá-la como uma maçaneta de porta, simultaneamente com um chute no escroto (bolsa testicular). Pow, sem considerar o risco de levar um tiro, o que fazer se se o marginal estiver de capacete aberto?

Mas toda moeda tem dois lados e o momento é de alegria, de confiança no futuro. Ser motociclista é se sentir feliz sob o sol ou debaixo de chuva. A sensação de liberdade, de independência, não se mede em vantagens e desvantagens, existe por si só. Não é anúncio de cartão de crédito, mas igualmente não tem preço...

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