Perfil: Esteve ?Tito? Rabat, o campeão da Moto2 em 2014

Conheça a história de vida do talentoso piloto espanhol que por enquanto recusa a MotoGP porque ?tem muito a aprender? na categoria de acesso

24/11/2014 14:32

Texto: Fausto Macieira

O motociclismo esportivo não é barato, e isso fecha muitas portas, especialmente em um país como o nosso. Na Europa é um pouco melhor, pois as distâncias são menores e a tradição das competições torna possível o surgimento de novos valores como os irmãos Marc e Alex Márquez, filhos de Julià, piloto amador e operador de escavadeiras.

Mesmo assim, uma família abastada obviamente irá facilitar a evolução do pretendente a piloto. Mas quando isso acontece, em geral os pais não incentivam a prática de esportes perigosos e potencialmente letais, preferindo que o “Júnior” administre o negócio que irá herdar.

Muitas carreiras promissoras nas pistas terminaram assim, e isso quase aconteceu com o novo Campeão do Mundo da Moto2. Tito é filho de Esteban e Dolores Rabat, de prestigiada linhagem de joalheiros espanhóis. A Joalheria Rabat é conhecida em toda a Europa, mas ao contrário de Jordi, o irmão, Tito não tinha vocação para executivo.

Ele anda de moto desde os 3 anos, e começou a correr aos 12, escondido dos pais. Gostou tanto da experiência que decidiu ser piloto. E não quis mais estudar. Esteban resistiu o quanto pôde, mas àquela altura Tito já havia se tornado amigo dos irmãos Márquez, mais novos e mais talentosos do que ele. Roser, a mãe, lembra que Tito era um garoto “um tanto desordenado e nervoso, que treinava o dia inteiro”.

Tito queria vencer, e com muito sacrifício foi vice-campeão espanhol das 125 em 2006, aos 17 anos, o que lhe abriu as portas do Mundial. A família agora o apoiava e ele conseguiu uma vaga ao lado de Bradley Smith na Repsol Honda, conseguindo um pódio na China em 2007. Com vaga assegurada na equipe oficial KTM ao lado do amigo Márquez para o ano seguinte, Tito teve que enfrentar outro problema. Estava crescendo rápido - aos 18 anos media 1,78 m, 20 cm mais do que Marc.

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Para compensar, Tito resolveu emagrecer, e chegou a pesar 53 quilos. Talvez por conta disso, sofreu um grave acidente na Catalunha, que o deixou em coma. Quando acordou, ele queria voltar para a pista, mas a corrida já tinha acontecido há tempos. Grande demais para as pequenas 125, Tito subiu para a Moto2 (600cc) em 2011, e por causa dele a Federação Internacional estabeleceu um peso mínimo de 215 quilos para moto e piloto. Como a moto pesa 140 quilos, qualquer piloto abaixo de 75 quilos teria que levar lastro.

Foi o impulso que faltava, mas como a moto era maior, Tito teve que reaprender a pilotar. Ele demorou um ano para ganhar músculos e se adaptar. Em fevereiro de 2012 sua mãe morreu, o que o deixou deprimido a ponto de contratar uma psicóloga em tempo integral. A orientação da bela Eva Molleja o levou a adotar uma atitude meio “Rocky Balboa” em relação ao Mundial de Motovelocidade.

Tito passou a morar em um motor home na pista de Almeria, na Espanha, um deserto que serve de palco para filmes de bang-bang. Aprendeu mecânica e funilaria para poder consertar sua velha moto de treinos. Deu resultado. Três vitórias, sete pódios e o 3º lugar geral em 2013.

Este ano Tito foi contratado para suceder o inglês Scott Redding na poderosa equipe do milionário belga Marc van der Stratten, dono da cerveja Stella Artois, uma das mais vendidas no mundo. Pela primeira vez Tito recebeu salários – antes era mesada – e retribuiu com sete vitórias, dez poles e 13 pódios, conquistando o título mundial na Malásia, com um GP de antecipação.

No dia seguinte o novo campeão mundial da Moto2 viajou para a Espanha e seguiu para sua amada pista de Almeria, onde continua treinando todas as manhãs e andando de bicicleta a tarde inteira antes de se recolher para o seu lar motorizado à beira da pista.

Tito diz que ainda tem muito a aprender antes de subir para a MotoGP, a categoria principal do mundial. Por isso nada vai mudar e ele não se sente solitário: “Minha moto me faz companhia...”

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