29/10/2014 14:39
Texto: Ismael Baubeta fotos: Mario Villaescusa
As fábricas europeias criaram o conceito que hoje chamamos de naked, depois tão popularizado pelas japonesas. Os anos passaram, mas os modelos mais sofisticados vindos da Europa continuaram sendo um contraponto aos acessíveis orientais. A MV Agusta Brutale sempre foi o expoente da resistência europeia quando o assunto era o máximo em esportividade e componentes. A potência do atual modelo 1090 RR alcança 158 cv e para isso faz poucas concessões à usabilidade – é arisca e “embaralha” em baixas rotações, até que você acelere o suficiente para receber toda a saúde do motor em altos regimes.
Os alemães demoraram, mas entraram de cabeça nessa categoria como fizeram anos atrás com a superbike S 1000 RR. Sua versão naked chegou ao Brasil repetindo a fórmula de estrear no segmento mudando as regras do jogo, como líder em potência e tecnologia: são 160 cv domados por uma eletrônica tão completa quanto a já usada na esportiva, além do primeiro sistema de suspensões ativas (a regulagem é feita por teclas e a atuação se adapta a situações como aceleração, frenagem e curva). Plus: a naked S 1000 R é mais amigável que a Brutale, principalmente em percursos urbanos.
A S 1000 R parte da base da superbike RR mantendo grande parte do design original. Carrega o mesmo pacote eletrônico que ajusta os parâmetros de potência, tração, inclinação, ABS e suspensões de acordo com o tipo de pilotagem selecionado (Rain, Road e Dynamic). O mais suave deles (Rain) deixa a entrega de potência do motor dócil, controle de tração e ABS a toda, além das suspensões mais suaves. Basta ir alterando o modo de pilotagem ou os ajustes individualmente para ter respostas mais ariscas. É fantástica. Você também pode elevar marchas rapidamente sem usar a embreagem, graças ao quick shift.
A Brutale também tem eletrônica embarcada, embora em menor escala do que na BMW. Dois modos de potência (Sport e Normal), oito níveis de interferência do controle de tração e dois ajustes de ABS (Normal e Race). Selecioná-los é tarefa à parte, menos intuitiva do que usando os comandos da S 1000 R, e se por um lado ajustar a suspensão exatamente de acordo com seu estilo de pilotagem é o melhor que uma moto pode oferecer, o contraponto é ter que utilizar ferramentas para isso. Na BMW se pressiona um botão, mas não é um ajuste fino.
Calcanhar de Aquiles
O motor da Brutale 1090 RR ABS, atualização do modelo lançada neste ano, é mais dócil do que a versão anterior, mas ainda ríspido nas respostas ao acelerador. Passear pela cidade não é uma tarefa totalmente prazerosa. Mais fácil acelerar forte e se exibir pelo ronco áspero da ponteira dupla lateral. O posicionamento elevado das saídas, imediatamente atrás da pedaleira direita, não é ideal do ponto de vista de ergonomia porque fica próximo do calcanhar, reduzindo a mobilidade do pé e exalando calor. A MV vai melhor quando o assunto é garupa, porque o banco largo para os padrões das nakeds atuais é o único razoável deste comparativo. Oferecer a garupa da BMW é tão indecente quanto a de uma superbike; serve para emergências, não para passear.
É na estrada que as duas supermáquinas se aproximam em condução. Em 6ª marcha e velocidade cruzeiro, a 120 km/h, as duas roncam alto, mas pouco importa se o rosto dos condutores se transformam e ganham imenso sorriso de prazer. Na redação há quem troque um orgasmo por esta sensação, acredita? É muito fácil e rápido alcançar os 200 km/h, difícil é se controlar para respeitar os limites de velocidade...
Na parte sinuosa da estrada as duas se comportaram bem, com a S 1000 R mais previsível para entrar nas curvas e seu guidão largo ajudando a direcioná-la pelo contra-esterço – a Brutale se inclina mais rápido e naturalmente na curva, o que pode assustar desavisados. As duas têm no sistema de freio uma grande virtude, não é preciso força para acioná-los, a resposta é imediata com apenas um dedo na alavanca. De volta à selva de pedra, em pleno horário de rush, a BMW se saiu um pouco melhor pelo maior ângulo de esterço, o que ajudou a driblar o trânsito.
Os alemães acertaram na mão e oferecem um pacote mais completo e fácil de manejar, mas também cobram mais por isso: R$ 67.900, contra R$ 64.000 da MV. Com a Brutale se tem um excelente pacote para uso esportivo e track days, só que menos domesticado para uso “civil”.
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