Como a Yamaha VMax inaugurou o estilo drag bike

Conheça a trajetória do modelo que apimentou o cenário cruiser com motor V4 e estética musculosa

15/05/2020 15:05

Poucas motos tão ousadas fizeram sucesso como a Yamaha VMax 1200, que agora completa 35 anos. Inspirada nos muscle cars, misturava duas paixões americanas: motos cruiser e provas de aceleração. Inaugurou assim o conceito de “drag bike”, uma cruiser esportiva equipada com poderoso motor V4 de 1.200cc. Era capaz de acelerá-la de 0 a 400 metros, a famosa medida de 1/4 de milha nas provas de aceleração, em apenas 10,3 segundos e fazê-la atingir 250 km/h. Em 1985, foi apresentada como a moto mais potente do mundo, somando 145 cv.

A ideia de lançar uma cruiser de estilo agressivo tão emocionante de acelerar quanto um muscle car veio do então gerente geral da Yamaha do Japão Akira Araki, após assistir a provas de arrancada em uma viagem aos Estados Unidos. Em conjunto com uma equipe de design chefiada por Yasushi Ashihara surgiu o esboço do que seria futuramente a VMax, exibindo grandes tomadas de ar laterais inspiradas em jatos de caça e ponteiras de escape cônicas apontadas para cima como nos dragsters.

O motor V4 com 4 válvulas por cilindro, comando duplo e refrigeração líquida veio da touring XVZ 1200 Venture. No entanto, os engenheiros queriam extrair mais que os 97 cv originais para realmente impressionar o público. Diversos recursos foram testados e até a instalação de um turbo foi considerada, mas logo descartada pela complexidade e espaço exíguo para os componentes.

A solução veio com um sistema nomeado de VBoost conectando os quatro carburadores em pares: borboletas controladas eletronicamente começam a abrir a 6.000 rpm, liberando fluxo por dutos entre as admissões dos cilindros 1 e 2, e dos cilindros 3 e 4. Desta forma, enquanto as válvulas de admissão do cilindro vizinho estão fechadas, o fluxo de alimentação de dois carburadores é sugado pelo cilindro que está com válvulas abertas. Assim, quatro carburadores fazem o trabalho de oito em altas rotações.

Houve também uma versão da VMax sem o VBoost, que desenvolvia 102 cv e era exportada para países com mais restrições à emissão de poluentes. Foram as unidades importadas oficialmente pela Europa e Brasil, a versão VBoost também chegou por aqui com importadores independentes trazendo motos dos Estados Unidos. 

O desempenho elevado até para os padrões atuais torna a experiência de pilotar a VMax única. “Estica-se a 2ª e a 3ª marchas e a demonstração de força é contínua e de forma estúpida. Tudo parece igual e promete acontecer o mesmo em 4ª e 5ª marchas”, relatava o primeiro teste publicado por Duas Rodas, em 1985.

Um pequeno velocímetro sobre o guidão estreito indica a velocidade crescendo vertiginosamente. Dois medidores adicionais (conta-giros e temperatura) ficam agrupados em cima do falso tanque com as luzes-espia, como se fosse o console central de um muscle car. A peça pintada sobre o motor apenas esconde a caixa de ar para os quatro carburadores, enquanto o tanque fica embaixo do banco.

Se o motor da VMax surpreendia, não se pode dizer o mesmo do restante do conjunto. Mesmo com o tanque de combustível sob o banco para baixar o centro de gravidade e uma postura de pilotagem semelhante à de uma naked, que facilita o domínio da moto, o peso suspenso limitava a agilidade e a estabilidade em altas velocidades não era digna de elogios. Sua virtude não estava nas curvas, mas sim nas acelerações em linha reta – como uma boa versão de duas rodas de um muscle car...

Do lançamento até a versão comemorativa de 20 anos que encerrou a produção em 2005, a VMax passou por poucas mudanças. A maioria delas estéticas, como as novas rodas em 1987, variações de pintura e acabamento imitando fibra de carbono nas partes plásticas a partir de 1999.

Evoluções técnicas foram sutis, como a utilização de discos ventilados a partir de 1986; inclusão de ignição eletrônica digital em 1990; comando de válvulas com novo diagrama de abertura para render mais torque em baixas rotações e relação de transmissão alongada em 1991; bengalas com 43 mm de diâmetro (antes 40 mm), novas pinças de freio de 4 pistões e alternador mais potente em 1993; e, por fim, a substituição do filtro de óleo de papel pelo tipo cartucho em 1996.

O encerramento da produção da VMax não foi suficiente para colocar um fim no legado de sucesso. Assim como aconteceu com outros modelos de identidade marcante criados pela Yamaha nos anos 1980, a valorização no mercado de usadas permaneceria ao longo dos anos e a fabricante aproveitaria para relançá-la como uma nova moto.

Esse retorno ocorreu três anos depois com design que faz referência ao modelo original e um novo V4 de 1.679cc com 200 cv de potência e 17 kgf.m de torque. Vendida em número reduzido e ocupando o topo da linha por quase dez anos, a "nova" VMax reviveu a fama de seu poder de aceleração brutal. Novamente fora de linha, seu legado de cruiser esportiva permanece em modelos como a Ducati Diavel. 

 

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