As belezas escondidas na Escandinávia

A Norte da Europa mais visitada pelos turistas estão algumas das estradas mais impressionantes do mundo

21/10/2016 16:39

Por Teiga Júnior

Foram mais de 5.500 km deslumbrantes por três países da Península Escandinava: Dinamarca, Suécia e Noruega. Paisagens de tirar o fôlego, cidades altamente organizadas e limpas e um povo extremamente feliz, com alto foco em gestão ambiental e na busca incessante por melhor qualidade de vida. Não é à toa que estão no topo do ranking de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Embora haja uma globalização real nas grandes cidades, o interior mostra tranquilidade e a bravura do povo para viver em regiões onde frio extremo e escassez de luz solar predominam durante o ano. São oito meses bem complicados para a sobrevivência em temperaturas muito abaixo de zero.

Na maior parte de nossa viagem predominou temperatura amena ou fria com céu nublado, característica da região, rodando sempre por estradas lindas, preservadas e bem sinalizadas onde os motoristas dirigem defensivamente. Em toda a viagem vi somente um acidente e acredite, escutei uma buzina no trânsito apenas uma vez! Comida globalizada nas capitais, mas no interior muitos pratos à base de peixe, ovinos e salada.

Viajamos em um grupo de seis casais com a expectativa de conhecer seis pontos principais no roteiro: (1) a ligação rodoviária Suécia-Dinamarca por uma ponte estaiada de quase 8 km sobre o oceano, que termina em uma ilha artificial onde a pista mergulha por um túnel submarino para terminar a travessia; (2) o túnel de Laerdal, Noruega, o maior túnel rodoviário do planeta com 24,5 km de extensão, onde para evitar a monotonia e o risco de sono foi criada uma iluminação especial que simula diferentes cenários; (3) os fiordes que parecem lagos calmos e azuis, embora sejam prolongamentos do mar com água salgada e profunda, cercados por imponentes penhascos e cachoeiras; (4) a ponte Storseisundet na rodovia Atlântica da Noruega, que liga um trecho de ilhas e foi construída sobre barreiras de pedra onde o mar (quando revolto) lança água sobre os veículos; a região subártica da Lapônia, que engloba o Norte da península em parte de Noruega, Suécia e Finlândia, famosa pelas renas e lenda do Papai Noel; (6) e o Círculo Polar Ártico.

Começamos por Copenhague, capital dinamarquesa, no ponto mais ao Sul da península. Com 600 mil habitantes é uma cidade média para o padrão brasileiro, perfeita para pedestres e ciclistas, que usam a bicicleta como principal meio de transporte e contam com ciclovias desde 1910. Partimos com as motos já cruzando o oceano pela ponte do Estreito de Öresund para entrar na Suécia, aquela famosa estrutura estaiada que “mergulha” no mar durante a travessia para se transformar em túnel até a cidade sueca de Malmö. Como na Dinamarca, o envolvimento com a questão ambiental aqui também é alto e pelas estradas vemos fazendas movidas à energia eólica e solar, nada de lixo à beira da rodovia (nem esperando por coleta), tudo bem planejado. Seguimos subindo pela costa Oeste até Gotemburgo e cruzamos a fronteira com a Noruega, que ocupa a maior parte dessa parte da costa da península. Paramos na capital Oslo novamente com a temperatura ao redor de 20°C, conhecemos um pouco das origens do povo Viking durante um dia e continuamos atravessando estradas sempre com presença de muita água e verde, sensacionais cachoeiras e fiordes que davam vontade de parar o tempo inteiro para filmar e fotografar. O ponto alto do trajeto até Oppheim foi a passagem pelo maior túnel rodoviário do mundo, com quase 25 km, além é claro da beleza de rodar pelas estradas sinuosas dos fiordes, muitas vezes com neve.

Na terra do Papai Noel

Seguindo para o Norte a temperatura já não passava de 12ºC, clima chuvoso, névoa e vento gelado. Passamos por plantações de morango e uma serra, Trolstigen, que me lembrou a do Rio do Rastro, em Santa Catarina. Finalmente estávamos no lugar que uma das metas mais desejadas da viagem, a ponte da rodovia suspensa de Storseisundbrua, que liga várias pequenas ilhas com pista poucos metros acima da água. Um marco, mas não posso deixar de comentar os túneis e as estradas da região, que mostram o quanto estão focados em manter a segurança e fluidez no trânsito mesmo ao custo de incontáveis pontes e túneis (o litoral do país é todo recortado por canais formados pela água do oceano), dois destes por baixo d'água atingindo 80 metros de profundidade.

Estávamos a caminho do Círculo Polar Ártico por uma região arborizada semelhante ao Norte do Canadá, muitos rios, pinheiros e plantações, principalmente de feno para os animais no inverno. Entramos na Lapônia, que se estende pelo Norte de Noruega, Suécia e Finlândia, terra da lenda do Papai Noel habitada por renas onde o verde dos pinheirais deu lugar a formações rochosas e gelo. Deixamos o território norueguês para iniciar a volta pela Suécia, as florestas continuaram maravilhosas e o trânsito mínimo até que entramos em rodovias principais mais movimentadas na costa Leste da península, em direção à capital Estocolmo. O sol começou a sair e a temperatura aumentando para quase 30°C nos fez passar calor dentro das roupas preparadas para frio. Apesar da latitude o clima de Estocolmo é ameno, mas não escapa das grandes variações de luminosidade dependendo da estação: até 18 horas diárias de sol no verão e apenas 6 horas no inverno! Reservamos um dia para conhecer a cidade, que se destaca pela beleza arquitetônica e a nós atraiu especialmente pela visita ao mercado público, onde se vê e prova iguarias locais com muita tranquilidade e organização, e o bar de gelo que ajudou a refrescar aquele dia quente.

Da capital sueca ao retorno a Copenhague tínhamos mais 670 km rumando para o Sul, que percorremos em um dia de tempo aberto e quente. Mergulhamos novamente no mar entre Suécia e Dinamarca pelo túnel submerso e deixamos para trás a saudade da paisagem maravilhosa, sobre a qual vemos pouca informação, mas que merece o desvio daquele famoso eixo turístico europeu.

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