Honda CBR 500R: diferenças entre a moto original e a de competição

Nosso editor de testes Ismael Baubeta anda em Interlagos com as duas versões da esportiva

25/06/2014 10:13

Texto: Ismael Baubeta  Fotos: Luiz Pires/Vipcomm

Realmente meus amigos têm razão: não há melhor trabalho no mundo do que o meu – para quem é vidrado em motos, é lógico. Há pouco tempo ingressei na equipe de Duas Rodas e uma das primeiras pautas que fui fazer foi o teste da Honda CBR 500R. Mas não se tratava de uma avaliação comum, teria que andar no autódromo de Interlagos com a moto original e compará-la ao modelo de competição, que integra o calendário do Superbike Series.

A surpresa veio depois, quando fique sabendo que disputaria uma etapa do campeonato como convidado. Meus neurônios começaram a acelerar, como se eu tivesse usado doses cavalares de cafeína e logo meu corpo foi tomado por uma euforia que beirou o medo, seguida de flatulência emocional. Parei para pensar: receio do quê? Afinal já competi nos anos 1990 com uma CBR 450 SR, o que me rendeu alguma (pouca) experiência. Além disso, meu ofício me proporciona andar com várias motos de teste e, esporadicamente, contribuo como instrutor no curso de pilotagem do Leandro Mello, amigo e também piloto de Duas Rodas.

O intuito do teste é trazer a você, amigo leitor, as diferenças entre as duas motos, já que há algumas modificações permitidas para o campeonato. Não podem ser alterados: motor, sistema de admissão, incluindo o filtro e sua caixa, nem a troca de componentes da suspensão (que podem ser ajustados e regulados por cada um). O kit para competição compreende pedaleiras especiais em alumínio (mais recuadas e levantadas que as originais), semi-guidões esportivos em alumínio, kit de carenagens e rabeta de fibra de vidro, ponteira de escape e os pneus Pirelli Diablo Rosso II.

O clima

Entrar no autódromo de Interlagos para um teste de motos ou curso de pilotagem é bom, mas é incrível a diferença quando você atravessa os portões para fazer uma corrida. Mesmo sendo apenas uma etapa, sem o compromisso de resultado (e só), o clima é outro e o cheiro de gasolina especial toma conta dos meus sentidos.

No primeiro dia (sexta-feira), a chuva não cessou até o final da tarde e adiou os trabalhos. Foi mais um teste, agora pessoal e de paciência. No sábado teria que andar na moto original na primeira sessão de treinos livres, mas a direção de prova não permitiu. A CBR 500R estava exatamente como sai de fábrica (com farol, piscas, descanso lateral e sem os lacres de segurança) e, caso acontecesse alguma coisa, poderia colocar em risco os demais pilotos. Entendi, mas não concordei. Afinal ninguém teve culpa da chuva e era sabido que a moto original teria que ir para a pista. Deixamos para tentar as voltas com ela no final do dia.

Coração acelerado, saio para o primeiro treino da manhã. Fiquei em penúltimo com o tempo de 2min09s, óbvio que não fiquei satisfeito. Pelo contrário, depois de ver o tempo do ponteiro (Leonardo Tamburro) 1min55s, tive certeza de que estava fazendo algo errado. Mudei meu chip cerebral, agora ele teria que me fazer andar mais lançado para não matar as entradas de curvas nas frenagens e ficar sem força nas saídas.

Como a CBR não tem muita potência (50,4 cv a 8.500 rpm, declarados pela fábrica no virabrequim), deixar o giro do motor cair é perda de tempo na certa. Deu certo, melhorei e na última sessão de treinos do dia marquei 2min05s, o que me garantiu a 24ª posição no grid entre os 28 pilotos. Ainda muito aquém do pole, mas um pouco mais satisfeito com minha melhora na velocidade em curva. Fiquei convicto de que poderia baixar ainda mais meu tempo.

Depois de todas as tomadas de tempo finalizadas, já escurecendo, fui autorizado a entrar na pista para dar duas voltas com a moto original. Teria que sair do pit, passar duas vezes pela linha de chegada e entrar novamente nos boxes.

Impressões

A CBR 500R é uma moto extremamente leve, não é preciso fazer força para colocá-la na trajetória que você deseja, basta apontar que ela vai. As suspensões trabalham muito bem, embora no asfalto de Interlagos elas não tenham grandes obstáculos, mas transmitem confiança e você vai deitando a moto até começar a raspar as pedaleiras. Quando o limite de inclinação com os pneus originais começa a chegar, ela pode ir além, mas o descanso lateral e seu suporte podem raspar mais forte e me jogar no chão. Os pneus têm boa aderência, mas são muito inferiores aos Pirelli Diablo Rosso II utilizados na competição. Para uso doméstico os pneus que saem de fábrica dão conta do recado, mesmo na tocada mais agressiva.

A posição de pilotagem não é tão avançada, mas permite que o condutor se encaixe bem atrás da carenagem para melhorar a penetração aerodinâmica, afinal, na pista é assim que deve ser. Para uso em outras situações o nível de conforto é excelente e a boa espessura da espuma do banco permite horas de pilotagem sem desânimo. Com o kit de fibra especial para pista, a rabeta recebe uma fina camada de espuma, apenas para não deixar o corpo escorregar e evitar batidas no traseiro nas mudanças de direção, frenagens e reacelerações constantes durante as voltas na pista. A vantagem é que os tempos de treinos e corrida são curtos, quando menos se espera recebemos a bandeira quadriculada indicando que a festa acabou.

Na pista fica claro que o poder de frenagem da CBR 500R sobra e, muitas vezes, te faz perder tempo. Foi com isso que eu tive que me acostumar, frear menos para andar mais lançado e ganhar tempo. Não poderia ser diferente na rua, o sistema é suficiente para bons espaços de frenagem e quando conta com o ABS é ainda melhor, principalmente nas frenagens emergenciais.

Em Interlagos, com a moto totalmente original é fácil sentir as pedaleiras roçando o chão, dos dois lados, isso limita a condução e o tempo de volta. A cronometragem só pegou uma das voltas com o tempo de 2min17s, mas com certeza, se pudesse continuar rodando e buscando melhorar o tempo, chegaria aos 2min10s ou até menos.

Corrida

Não quis arriscar na largada, afinal saindo lá no bolo traseiro, seria fácil me enroscar com alguém. Depois acabei achando que não devia ter poupado tanto, quem sabe na próxima. A corrida foi muito legal. Fiquei disputando posições com outros dois pilotos e em cada volta um de nós estava na frente. Depois de cometer um erro e ser ultrapassado pelos dois na penúltima volta, comecei a perseguição. Avaliei onde eu estava mais rápido e na última volta dei o bote e passei os dois na descida do lago, daí até o final fui sentindo a presença dos dois na minha rabeta, mas fiz o traçado defensivo e deu certo, cruzei a linha de chegada na frente deles, na 17ª colocação. Fiquei muito feliz, mas ainda mais contente de saber que a minha melhor volta na prova foi 2min03s. A experiência foi ótima e me deu vontade de continuar a competir no campeonato. O tempo certamente baixaria.

A CBR 500R é uma moto muito boa. Pode parecer que lhe falta potência, principalmente na pista, mas nem por isso rende pouca emoção, se fosse fácil todos os pilotos andariam juntos, certo? Esta moto é a que faltava para os proprietários de motos pequenas poderem subir o degrau com segurança, conforto e preço justo. Vale a pena.

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